Será um mapa do tesouro? Adolf Hitler e a Alemanha nazi realmente confiscou tesouros em quantidades surpreendentes, que depois enterraram, especialmente perto do fim da guerra. E acima de tudo, muito do que foi roubado nunca foi encontrado até hoje.

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Em março de 2019, é anunciada a existência de um diário de guerra de um dos oficiais da SS, Standartenführer Egon Ollenhauer, escrito à mão, onde aparentemente estão indicados 11 esconderijos localizados na Polónia, 10 na Baixa Silésia e um em Opole, de tesouros de ouro e arte roubados pelos nazis.

A história conta que, em 1944, quando o Exército Vermelho avançava, Adolf Hitler teria ordenado a retirada desses bens e a sua ocultação naqueles locais, e Egon Ollenhauer teria sido o responsável por essa tarefa. A Baixa Silésia era um território etnicamente alemão, e a SS de Hitler empreendeu uma operação em larga escala para esconder o ouro nazi e objetos de valor, saqueados por toda a Europa.

O "diário do oficial da SS Egon Ollenhauer" conterá assim detalhes de uma operação especial aprovada por Adolf Hitler para esconder cerca de 260 camiões de barras de ouro, moedas, objetos de valor e obras de arte de valor inestimável em onze locais discretos na Polónia nos meses finais da Segunda Guerra Mundial.

O diário do SS standartenführer Egon Ollenhauer, ainda envolto em mistério

O diário teria sido guardado pelos maçons alemães,  chegando depois à posse da organização cristã Quedlinburger, que o doou posteriormente à Fundação Śląski Pomost (Ponte Silésia). Feitos estudos por vários laboratórios da Polónia e da Alemanha para atestar da sua autenticidade, concluíram tratar-se de um documento verdadeiro, escrito no início de 1945.

O diário fornece coordenadas precisas dos esconderijos, mas também indicação do conteúdo de alguns deles. No primeiro esconderijo, estariam 28 toneladas de ouro das reservas do Reichbank Wroclaw. No segundo, bens como moedas de ouro, jóias, e esculturas de ouro que foram retiradas dos cofres bancários em Breslau. No terceiro esconderijo, jóias das lojas do Jubileu em Breslau e itens particulares. O quarto esconderijo teria armazenadas 47 obras de importância internacional roubadas de colecções na França: obras de Botticelli, Cezanne, Dürer, Monet, Raffael e Rembrandt, Rubens, e Caravaggio.

Ainda outro tesouro deve conter objetos religiosos reunidos por Ahnenerbe, de Himmler, que acumulou itens sacrais de todo o mundo na tentativa de encontrar evidências para as teorias raciais de Hitler.

São 500 páginas que dão uma ideia dos últimos dias da Segunda Guerra Mundial na Polónia e que 74 anos depois, aparentemente, lançam a luz sobre o desaparecimento de muitas obras de arte retiradas de coleções privadas e museus de toda a Europa.

Diz  Darius Franz Dziewiatek, o fundador da fundação depositária do diário, "Lá, [diário] o procedimento é descrito em detalhe como os esconderijos foram criados, são onze lugares descritos"., em que a missão do oficial da SS era, portanto, trazer o ouro do Wroclaw Reichsbank e outros itens em segurança antes do avanço do Exército Vermelho. E acrescenta "É certo que esses transportes existiram."

O diário SS standartenführer Egon Ollenhauer
O que consta do diário?

Dziewiatek terá dado a localização exata de alguns lugares na Baixa Silésia. Um é um poço profundo num parque do palácio, outro está no fundo de uma lagoa noutro parque do palácio. Outros locais são um cofre de betão sob o fundo de um riacho, e uma sala secreta entre as paredes de outro palácio.
Todos os locais são descritos em grande detalhe. O autor do diário também mencionou como se deviam efetuar os armazenamentos, e por exemplo, o grau de florestamento das áreas.  

O que eles deveriam cobrir? Aqui, o autor das notas também era muito preciso.  No esconderijo da região de Opole, estão escondidos os cofres do Presidium da Polícia de Breslau, o chamado ouro de Wrocław (depósitos de bancos que operavam na cidade). 

Originalmente, 56 caixas foram retiradas, mas o autor descreve que o transporte foi atingido por um projétil de artilharia. É por isso que apenas 48 caixas foram levadas para o esconderijo. E acrescenta que 47 pinturas de grandes mestres da pintura estavam escondidas num dos esconderijos da Baixa Silésia. Da lista, pode-se ler, entre outros, os nomes de Rembrandt, Rubens, Caravaggio, Monet, Botticelli e Cézanne. No entanto, a imaginação pode inflamar a presença na lista de obras de Rafael Santi. Ele é o autor da mais valiosa obra polaca perdida, que também é uma das mais procuradas do mundo - "Portrait of a Young Man". 

Segundo Dziewiatek o diário está à guarda da fundação Śląski Pomost desde há 18 anos, tendo-se aguardado até agora, após os últimos participantes na guerra e na missão de esconderijo do ouro e das obras de arte tenham morrido.

Diz-se que o diário veio de Quedlinburg de uma Loja Maçónica para a Polónia, como presente de cristãos alemães para cristãos polacos. A partir daí, tudo o mais parece ser especulação. Ninguém responde ou sabe como o diário chegou às mãos dos maçons alemães, ou sequer quem era o oficial que escreveu o diário.

Quem é o SS-Standartenführer Egon Ollenhauer?

Um historiador russo Konstantin Zalessky vem escrevendo que tem muitas dúvidas sobre a existência de um Egon Ollenhauer porque a patente "Standartenführer" é uma patente alta, comparável hoje a um coronel. Se existisse, ele seria conhecido, e o certo é que não registos dessa personagem.

Perguntam, seria um erro, Egon Ollenhauer talvez fosse apenas SS-Hauptsturmführer, uma patente inferior?

Segundo o historiador Konstantin Zalessky que escreveu mais de uma dúzia de livros sobre a Alemanha nazi, há simplesmente muitas inconsistências na história do aparecimento do diário. "O documento em si não foi publicado; apenas foram fornecidas várias fotografias de suas páginas. Precisamos ter cuidado com essas coisas. As pessoas que enviaram esses trabalhos dizem que foram verificadas em cinco exames, mas não sabemos quem os conduziu ".

O historiador chamou a atenção para o manto de mistério que paira sobre como o diário chegou à loja maçónica e quem é realmente esse oficial Egon Ollenhauer. Segundo o historiador, o seu nome não foi encontrado em nenhum documento histórico.

"Quem é esse Egon Ollenhauser? ... Se ele era um standartenfuhrer, como alegado, por que não há informações sobre ele nos documentos da SS? Se ele é um sturmbannfuhrer, é outra questão, mas o seu nome não pode ser encontrado em qualquer lista de sturmbannfuhrers para o ano de 1943. Quem é esse homem? Não há informações sobre a sua biografia, e ele não pode ser encontrado com base nas suas atividades anteriores. Nunca ninguém com esse nome foi listado nas fileiras de a SS ", disse Zalessky.

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Por exemplo, "o diário lista uma enorme quantidade de 260 camiões carregados de tesouros. Isso levanta a questão - quantas pessoas foram necessárias para operar esses camiões e quantas pessoas participaram dessa operação? Um mínimo de 260, além dos que fizeram o armazenamento. Isso significa que mais de mil pessoas "provavelmente estavam envolvidas na operação, enfatizou Zalesky, o que significa que mantê-lo em segredo seria quase impossível.

Também Andreas Richter, conhecido por ser um dos caçadores de tesouros que andou em busca do comboio carregado de ouro escondido algures na montanha em Walbrzych, Baixa Silésia, diz ter lido uma nota do diário, mas que está muito cético sobre a autenticidade do mesmo, apesar de não o ter estudado na sua totalidade.

Retrato de um Jovem", de Rafael Santi
O SS-Standartenführer Egon Ollenhauer é uma invenção?

Neste ponto, o escritor polaco Włodzimierz Antkowiak, um best-seller de livros sobre tesouros perdidos dos nazis, disse que foi ele que inventou o nome mas que efetivamente havia um oficial da SS. Antkowiak diz que realmente conheceu um oficial da SS que lhe deu as informações, mas que lhe dera num dos seus livros o nome Egon Ollenhauer para proteger a sua identidade.

Por seu lado, a fundação depositária não fala de um Ollenhauer, como tendo sido o escritor do diário, tendo negado sempre que o homem tivesse esse nome, e até "Michaelis", um nome que apareceu depois como sendo o verdadeiro autor, referiram ser apenas um pseudónimo, e que sabiam o nome do oficial das SS, mas não queriam ainda revelá-lo.

Aparece essa indicação de um autor do diário como sendo Michaelis, talvez Wilhelm, um oficial de alto escalão da Wehrmacht, um homem responsável por importantes transportes vindos de Wrocław e por seu transporte para os esconderijos. Em Jelenia Góra, ele teria 260 camiões à sua disposição, que ele deveria usar em nome de Grundmann e Ollenhauer para levar os tesouros a serem escondidos em armazéns especialmente discretos.

Os registos dizem respeito ao período de junho de 1944 a 18 de março de 1945.

De onde vem o diário? 

Roman Furmaniak, que representa a fundação Baixa Silésia, referiu que há cerca de 10 anos, após muitas discussões, a loja maçónica de Quedlinburger decidiu entregar o diário à fundação, e que as informações sobre o diário só ocorreram agora, pois queriam esperar até que todas as pessoas que pudessem estar ligadas aos eventos e ao diário tivessem morrido, principalmente os oficiais da Waffen SS. Esse era o desejo da loja de Quedlinburger.

A fundação afirma que a autenticidade do diário foi verificada por cinco instituições na Alemanha, incluindo o Departamento de História da Arte da Universidade de Göttingen, e esses testes mostram que o diário é real. Em outubro do ano passado, a fundação resolveu então informar as autoridades polacas do que tinham. Quanto ao facto de o ter recebido, a conexão maçónica parece ser puramente acidental.

A posse do diário viria graças ao descendente de um dos soldados que no final da guerra participou da ocultação de objetos de valor. O autor dos registos devia ser o homem da SS Egon Ollenhauer, que - se é que existia - era assistente de Gunther Grundmann, então o principal conservador dos monumentos da Baixa Silésia. 


O mesmo que preparou a chamada "lista Grundmann" e, portanto, uma lista de lugares onde os alemães decidiram esconder bens culturais. 

Será que 260 camiões transportaram ouro e arte?

As descobertas seriam sensacionais. Alguns dos esconderijos que a fundação já identificou são intocáveis. O Ministério da Cultura e Património Nacional da Polónia recebeu uma lista de cinco lugares:  

E não há dúvida que Adolf Hitler mandou esconder ouro e outros bens. Na Turíngia, logo após a invasão de abril de 1945, os soldados americanos encontraram sacos de ouro, notas e obras de arte na mina de sal de Merkers.